quinta-feira, 9 de junho de 2011

Parto do Vicente

Senti que o Vicente ia nascer quando estava tomando um chá na cozinha, com uma amiga muito querida, e percebi que saí do ar. Perdi a consciência e minha vista se embaralhou por alguns segundos apenas. Achei muito estranho e percebi que era um sinal de que tudo ia começar. Na noite desse dia, em torno de 22 horas, senti uma contração diferente das que eu havia sentido até então. A minha grande dúvida durante toda a gestação era se eu saberia identificar meu trabalho de parto, quando ele começasse. E naquele momento, não tive dúvida alguma. Resolvi contar o tempo, estavam de 30 em 30 minutos, resolvi ir dormir. Tive um sono leve, prestando atenção no que estava acontecendo, e quando foi  7 horas da manhã as contrações se tornaram mais intensas e menos espassadas. Estava com 38 semanas e 3 dias. Contei o tempo e estavam a cada 20 minutos. Então acordei meu marido e minha mãe, que também estava em casa, e fomos os três ao hospital. Chegando lá, fui encaminhada a uma sala e a enfermeira fez  o toque: 2 dedos de dilatação. Ela entrou em contato com meu obstetra, Dr Carlos Miner,e ele chegou a conclusão de que era melhor eu já ficar no hospital. Porém, depois desse momento tudo parou. Contração zero!Fui encaminhada ao quarto. Chegando lá, estendi meu tapete de yoga e comecei a praticar. Depois de 40 minutos as contrações voltaram e foram evoluindo. Na sequência Dr Miner chegou e quis fazer mais um toque: 4 de dilatação. Achei pouco e resolvi me esforçar mais. Chamei o Juliano  para dar uma caminhada pelo hospital, já que estava super tranquila em relação às dores. Voltamos ao quarto, senti necessidade de ficar mais quieta, pois as contrações estavam se intensificando. Nesse momento a presença do Juliano, começou a me incomodar, não gostava que ele chegasse perto de mim. Estava no meu tapete, sentada, tentando meditar. Dr Miner voltou ao quarto e fez outro toque: 7 de dilatação. Devia ser 12:30. Ele sugeriu que eu tomasse ocitocina, e apesar de pouco informada no assunto, a única certeza que tinha era que queria meu parto o mais natural possível. Perguntei se havia algum problema se eu não tomasse, ele disse que não, então rejeitei a sugestão. Continuamos. Depois que percebi uma certa pressa do meu médico ao me oferecer a ocitocina, as contrações voltaram a ficar fracas e comecei a me preocupar. Olhei desesperada para minha mãe e então ela chegou até a minha barriga e posicionou suas mãos para aplicar reiki. Naquele momento senti uma contração alucinante e então pedi que ela retirasse suas mãos. O meu trabalho de parto prosseguiu a partir desse momento, porém já em uma outra atmosfera. As contrações começaram a vir de 3 em 3 minutos e quanto vinham, eu olhava para os lados, pensando em fugir, e como não dava para correr delas, prendia a respiração....Apesar de ter lido bastante sobre respiração durante minha gestação, nesse momento me senti sozinha, sem uma voz a me lembrar de um simples detalhe: respiiiiiire....E como fez diferença! Pois entrei no famoso mecanismo lutar\fugir. A cada contração me deparava com um leão a minha frente, fechava os olhos e prendia a respiração, com o corpo todo rígido de adrenalina e medo. Não sabia que podia me entregar às contrações, deixando elas me conduzirem até onde eu precisava chegar. Me amarrei e ali eu fiquei. O médico chegou novamente, fez o toque: 9 de dilatação. Ele resolveu que então iríamos ao centro cirúrgico. Fui andando, amparada por uma enfermeira,enlouquecida com os leões, correndo atrás de mim. Chegando no centro cirurgico, uma contração mais forte que fez vazar sangue no chão. Fiquei apavorada com aquele sangue, parecia que algo estava errado. Então me apoiei na mesa do centro enquanto uma enfermeira queria conversar comigo. A primeira frase que ela disse foi: vc não tomou analgesia aindaaaaa? Olhei para ela com um olhar fulminante, ela sumiu dali. Estava tentando,com todas as minhas forças, um parto natural,e precisei escutar isso daquela enfemeira, naquele momento critico! Foi muito dificil! Quando Dr Miner chegou eu simplesmente me entreguei. Se ele dissesse para eu plantar bananeiras, era isso que eu faria.  O médico resolveu estourar a bolsa, para acelerar o processo, e foi o que realmente aconteceu! Eu sabia que já estava no fim e outro medo começou.Cheguei à fase final e tive muito medo de morrer, no momento da expulsão. De ficar toda "rasgada" e ser aquilo a maior dor da minha vida. E foi nesse momento que o Dr Miner descumpriu nosso trato, me oferecendo analgesia. Ele percebeu que eu não estava nem um pouco preparada para vivenciar tudo aquilo que me propus.Ele tinha toda razão! Concordei no ato. E foi um alívio....como se eu tivesse acordado de um terrivel pesadelo. Porém, logo percebi que além de não sentir mais dor, também não sentia contrações, nem meus quadris, nem minhas pernas....O médico precisava me avisar,quando vinham as contrações, para eu fazer força. Mas eu estava me sentindo muito cansada, por mim batia ponto, ia pra casa e voltava no outro dia para terminar. Já não havia dormido na noite anterior, sem tomar café e almoçar, sem água! tinha feito muito yoga, andado demais, ficado o tempo todo em pé, afff....estava esgotada! A força que eu fazia era ineficiente, me sentia tão fraca, entregue. Então percebi que o Dr Miner, quando auscutou o bebê, ficou com a expressão preocupada. Foi aí que ele decidiu acelerar, finalizando com a sucção ( ventosa que substitui o fórceps, porém mais suave). Como não estava sentindo nada, imagino que tenha sido nesse momento que ele fez a episio, para poder usar a sucção. E depois de alguns minutos, estava o Vicente do meu lado, sem eu saber ao certo como ele apareceu ali! Lembro de ter olhado para o relógio na parede, marcava 14:05.Percebi o Juliano saindo de trás de mim para conhecer o filhote. E quando o vi, pela primeira vez, o amor que senti foi arrebatador. Ele estava tranquilo, não chorou, parecia estar dormindo.Poderia ter me preocupado, mas senti que estava tudo bem. E então, após eu o olhar somente, ele já foi levado para os procedimentos de praxe, acompanhado do pai,enquanto o Dr Miner me dava os pontos da episio.Somente voltei a rever aquela pequena parte de mim somente algumas horas depois....porém qdo ele chegou, nunca mais ficou longe! Meu querido Vicente, já fazia parte, para sempre, da minha vida!

Eu poderia ter relatado somente a parte boa do parto do Vicente, para que esse não se torne uma forma de desinsentivo ao parto natural.Mas preferi ser sincera, contando nos detalhes como foi difícil, por um simples motivo: precisava identificar para mim mesma quais foram os erros que me levaram
a ter um parto que terminou em um grande sentimento de frustração para mim, pois sei, no fundo do meu coração, que não precisava ter sido assim. É importante eu destrinchar esses erros, para que isso se resolva em minha mente, já que meu próximo parto está prestes a acontecer.
O primeiro erro:  falta de informação. Por mais que eu tivesse lido bastante sobre o assunto, acredito que tenha faltado a troca de idéias com outras mulheres que pensassem igual  a mim. Precisava ter escutado suas histórias, seus conselhos. O parto me pegou de surpresa e me perdi no processo.
Segundo erro: ter conversado pouco com o Juliano sobre o parto em si. De não te-lo instruido como poderia me ajudar, e de que forma.
Terceiro erro: não me alimentei e nem tomei agua, somando isso ao fato de ter me cansado demais, sem me dar o direito aos intervalos de descanso.
Quarto erro: não me lembrei e tampouco tinha alguém para me lembrar sobre RESPIRAR e RELAXAR o corpo, duas peças chaves em um parto natural.
Quinto erro: não ter alguém mais informado me acompanhando e ao meu marido no processo, como uma doula. Meu Deus,como me fez falta! Hoje sei reconhecer o quanto o papel da doula é fundamental!

Enfim, cheguei a conclusão de que não adianta você escolher um obstetra que defenda a ideia do parto natural e humanizado se você, parturiente, não estiver informada e empoderada. Afinal, se você não estiver preparada para parir, alguém tem que estar, e esse alguém será o médico responsavel por você.
Sei que a experiência de um parto não precisa ser como foi o meu primeiro parto. Posso transmutá-la a um ponto mais alto e sublime.
Peço a Grande Mãe que esteja comigo durante o parto da Cecília. Quero ter o privilégio de vivenciar, nessa vida, de forma consciente,esse momento. Ser capaz de transformar essa experiência  em algo lindo e positivao, e não mais em um pesar.
Agora me sinto capaz. Eu e o Juliano já vivenciamos uma vez essa experiência, sabemos como é. Tenho mais informações, amigas do Gesta, em especial a Pata, que trouxe esse grande presente até Londrina. Pois foi no Gesta que fortaleci meu empoderamento, minha coragem de enfrentar esse trauma e desejar passar novamente por essa experiência, porém de uma outra forma.
Me preparei durante minha formação no curso de yoga para Gestantes, com a querida Carmen Perez, que iniciou esse processo de cura em mim
Dessa vez, terei a companhia da minha amiga e doula, Marília, que nos ajudará a mim e o Juliano. Amiga  querida que esbarrei nesse meio de tempo, e que não quero largar nunca mais. Gostaria que você soubesse: será um privilégio compartilhar com você esse momento tão especial!
Dessa vez vou me lembrar ( e se eu me esquecer terei alguem para me lembrar!!!!!) de respirar, de ir ao chuveiro, de entrar na banheira quentinha, contar com o apoio do meu maridão,Marília, Dr Alessandro Galletto, em quem confio plenamente.
E de principalmente me entregar ao processo natural do MEU parto.
Vai ser como tiver que ser, no momento que tiver que ser, mas de uma coisa eu tenho certeza, farei a minha parte!
Torçam por mim!

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